A Adoração Extravagante de Maria
Três dos quatro evangelistas registraram um dos momentos mais marcantes da vida de Jesus: a adoração extravagante de uma mulher que ungiu o Mestre com um perfume de altíssimo valor.
Para alguns que estavam presentes, aquele gesto pareceu um desperdício — afinal, por que derramar um unguento tão caro nos pés de Jesus e não usá-lo de outra forma?
Mas aquela mulher via algo que os outros não enxergavam. Ela compreendia quem era Jesus e o que estava prestes a acontecer. Sem talvez compreender racionalmente, discerniu espiritualmente que Ele morreria pelos pecados da humanidade — e o preparou para o sepultamento.
A inspiração de Lucas, Marcos e João
Em Lucas 7:40, Jesus cita o nome do fariseu que o havia convidado para a ceia: Simão.
Em Marcos 14:3, o texto menciona que Jesus estava em Betânia, na casa de Simão, o leproso.
Já em João 12:2, lê-se que “lhe prepararam ali uma ceia”. O “ali” não indica necessariamente a casa de Lázaro, mas sim a aldeia de Betânia, onde eles moravam.
Como Simão o leproso também vivia em Betânia e as descrições dos três evangelhos são tão semelhantes, há grandes indícios de que todos estejam relatando o mesmo episódio. É possível que a ceia tenha ocorrido na casa de Simão, e que Lázaro, recentemente ressuscitado e muito conhecido por isso, fosse um convidado de honra. Marta, como sempre, estava servindo — e Maria, sua irmã, protagonizou aquele gesto de adoração.
Na narrativa de João, Judas Iscariotes, prestes a trair Jesus, criticou a atitude de Maria: “Por que este perfume tão caro não foi vendido e o dinheiro dado aos pobres?”
Marcos acrescenta que “alguns” — no plural — se indignaram da mesma forma, chamando de desperdício o que, na verdade, era devoção pura.
Confrontando as aparências
Mas é o relato de Lucas que mais surpreende: o fariseu anfitrião, ao ver a cena, pensou consigo mesmo:
“Se este homem fosse profeta, saberia quem é essa mulher que o toca, pois é uma pecadora.” (Lucas 7:39)
Se Lucas está descrevendo o mesmo evento, então aquela mulher era Maria de Betânia, irmã de Lázaro e Marta — e, nos pensamentos de Simão, alguém marcada por um passado que ele julgava imperdoável.
Na verdade, ao pensar assim, ele desqualificava tanto Jesus como profeta quanto a própria adoração de Maria.
Mas Jesus o confrontou com sabedoria divina, mostrando que quem mais ama é aquele que mais se reconhece perdoado.
E aqui está a lição profunda: os religiosos talvez nunca esqueçam o passado de alguém, mas Deus não vê como eles veem. O Reino de Deus não se manifesta em aparências externas, mas vive dentro de nós.
Revelação produz adoração
Nas três versões do episódio, Jesus defende a mulher e seu coração totalmente rendido.
Aquela “pecadora”, agora transformada, se tornou uma verdadeira adoradora extravagante, movida por uma revelação que ninguém mais possuía.
Por isso, Jesus declarou que, onde quer que o evangelho seja pregado, o seu gesto seria lembrado.
Ela ungiu o corpo de Cristo para o sepultamento — um ato profético de amor e entendimento espiritual.
O perfume que encheu a casa de Simão continua, até hoje, perfumando a história. É o aroma da entrega total, do coração transformado e da adoração verdadeira.





