Quando Deus procurava um coração
Em uma época em que a cor da pele determinava o valor de um homem, e os olhos do mundo se fixavam na aparência, Deus buscava algo diferente: um coração quebrantado.
Foi assim que Ele encontrou William Joseph Seymour, nascido em 2 de maio de 1870, no sul dos Estados Unidos, em Centerville, Louisiana. Filho de ex-escravos, Seymour cresceu cercado por pobreza, fome espiritual, segregação brutal e oportunidades quase inexistentes.
Ainda jovem, perdeu a visão de um olho devido à varíola. Não tinha formação acadêmica e não era bem-vindo nos seminários. Mas carregava uma sede profunda por Deus. Trabalhava lavando pratos e limpando hotéis, e entre um turno e outro, lia sua Bíblia gasta. O seu clamor era constante: “Senhor… eu sei que há mais!”
Ele não buscava fama, nem púlpitos — seu único desejo era ver o Espírito Santo se mover como nos dias de Atos.
Orava por horas até suas roupas ficarem encharcadas de suor.
Sem música, sem palco, apenas o chão… e um homem com o rosto em lágrimas, clamando por um derramar.
Sabia que o avivamento não desce de cima para baixo — mas nasce de joelhos para o alto.
Essa fome o levou a Houston, Texas, onde ouviu Charles Parham pregar sobre o batismo com o Espírito e o falar em línguas. Mas, por ser negro, Seymour não podia nem entrar na sala. Ouvia de fora, pela fresta da porta — humilhado pelos homens, mas observado pelo céu.
“Se não posso entrar na sala, entro no lugar secreto”, dizia ele.
Mesmo sem ainda falar em línguas, já era tomado por uma convicção inabalável: Deus visitaria novamente o seu povo.
Los Angeles
Foi então que um nome começou a arder em seu coração: Los Angeles. Lá, um pequeno grupo de crentes famintos por Deus o convidou para pregar. Ele foi — sem fama, sem dinheiro, e ainda sem ter vivido o que pregaria. Mas foi, porque a fé queima mais forte do que a lógica.
Em fevereiro de 1906, chegou a Los Angeles. Negro, pobre, cego de um olho, mas com um coração cheio.
Pregou com convicção sobre o batismo com o Espírito e o falar em línguas. No dia seguinte, foi expulso — trancaram a porta da igreja. Outros teriam desistido. Seymour, não.
Encontrou abrigo em uma casa simples, na Bonnie Brae Street, nº 214. Ali, com poucos irmãos, começou a orar como se o mundo dependesse daquilo — e de fato, dependia.
No dia 9 de abril de 1906, o céu respondeu
Um jovem chamado Edward Lee foi batizado com o Espírito e começou a falar em línguas. Outros foram tomados. A sala tremeu. Pessoas caíam de joelhos na calçada, tomadas pela presença de Deus. A vizinhança não dormia. A varanda da casa cedeu com o peso da glória.
De meia dúzia, virou multidão. Pessoas eram batizadas com o Espírito antes mesmo de entrar na casa.
Entre os esquecidos, os rejeitados e os sedentos… No centro de tudo, um homem com um olho só, uma Bíblia nas mãos e o rosto no chão.
A casa já não comportava. Alugaram um antigo estábulo abandonado na Azusa Street, nº 312. Cheirava madeira velha e feno, mas Deus escolheu aquele lugar improvável para derramar glória visível.
Não havia letreiro, nem nome. Apenas bancos rústicos, um púlpito tosco… e almas sedentas. Seymour não dirigia os cultos — muitas vezes ficava com o rosto dentro de uma caixa de madeira, em oração silenciosa.
E o Espírito fazia o que queria.
Línguas se multiplicavam, profecias vinham com precisão. Milagres aconteciam sem imposição de mãos: cegos viam, surdos ouviam, possessos eram libertos.
A glória era tão intensa que bombeiros foram chamados pensando haver incêndio. Mas o fogo era espiritual. Gente de todas as raças, de todas as nações, adorava junto. Um chinês, um russo, um árabe… todos ouviam em seu próprio idioma. Era Atos 2 no gueto de Los Angeles.
Mas como todo avivamento, também veio a perseguição.
Jornais zombavam: “histeria religiosa”, “fanatismo perigoso”, “confusão de raças”. Até mesmo Charles Parham — seu antigo mentor — se voltou contra ele, escandalizado por ver brancos e negros adorando lado a lado.
Outros líderes tentaram tomar o controle do movimento. Criaram seus próprios ministérios. Usaram o fogo de Azusa, mas esqueceram o altar que o acendeu.
Seymour foi deixado de lado. Traído. Esquecido. Mas nunca retaliou. Nunca buscou palco. Continuou no mesmo lugar…
Com a Bíblia nas mãos. Com a testa no chão.
Mesmo após o fogo diminuir, o impacto jamais cessou.
Missionários partiram de Azusa para África, Europa, Ásia e América Latina. No Brasil, Daniel Berg e Gunnar Vingren chegaram ao Pará em 1910 — e nasceu a Assembleia de Deus.
Hoje, mais de 600 milhões de pentecostais no mundo carregam raízes até aquele galpão sem nome na rua Azusa.
William Seymour morreu em 1922, com apenas 52 anos, vítima de um ataque cardíaco. Foi enterrado em um túmulo simples, sem honrarias.
O mundo o esqueceu por um tempo… Mas o céu jamais. O fogo que ele carregava ainda queima. E o Espírito ainda procura por corações dispostos a fazer como ele fez: Colocar o rosto no chão, morrer para si e clamar; Até que um novo derramar venha!
Você pode também ler aqui no blog A ORAçÃO DA NOVA ALIANçA